sexta-feira, novembro 28, 2008

Chuva triste


Esta chuva deixa-me triste… com arrepios de alma gelada. É tristeza que me dá por motivo que não existe… é um entristecer que vem do nada. Não me apetece rimar, nem falar, nem escrever, nem… ser. Nada. Uma vontade parada. O que me apetece é ser ar, chorar, e muito me contradizer no falar e no escrever… dizer que me apetece ser… depois de afirmar não me apetecer nada… nem a mais pequenina coisa imaginada. Não quero! Quero que seja essa a minha vontade. Não! Já disse que não quero! E quero não o querer de verdade! Esta chuva é travão da alma. É morte lenta que me acalma. É a mágoa que vem do outro lado do existir. É… o preço de sentir.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Antigo Testamento


“Deixo-vos uma coisa chamada mundo. Acabadinho de criar, novinho em folha. Não é para estragar. Para começar, dou-vos muitas coisas chamadas animais e chamadas plantas. Não é para gastar tudo. Depois, dar-vos-ei uma coisa chamada inteligência. Não é para esquecer. Lentamente, ensinar-vos-ei a criar vós mesmos as vossas próprias coisas, às quais chamareis os nomes que bem entenderes, por mais estúpidos que sejam. Não é para fazer asneiras. Em pequenas prestações, colocarei ao vosso alcance o entendimento das coisas simples. Não é para complicar. Por fim, o maior bem que vos posso deixar, conceder-vos-ei o poder de alterar todas as coisas criadas. Não abuseis. (a sério!).

A vós, meus filhos, Adão e Eva, deixo-vos tudo isto.”

Assinado:
Deus

segunda-feira, novembro 24, 2008

Piaçaba precisa-se!


Um dos grandes desassossegos de alma que me deixam de olhitos arregalados à noite (para além da lógica falta de vontade de dormir) é uma tal cena hollywoodesca em que, durante um qualquer filme, por algum motivo transcendental, uma das personagens vê a sua cabeça enfiada à força pela abertura de uma sanita. Ora pois, tudo muito bem, nada contra singulares hábitos de higiene em que se confunde (muito naturalmente) uma sanita com um lavatório para lavar a cara, mas o que me faz sempre confusão é que quando se projecta no ecrã um grande plano da imagem, que contempla o interior da sanita (o operador de câmara deve ser um anão bastante malcheiroso), a dita sanita está sempre com tanta água no seu interior que se pode ver, de facto, a cara a mergulhar e a fazer bolhinhas de ar que soltam glu-glus de fingido desespero. Certo, onde está o detalhe que me faz espécie? (expressão curiosa… fazer espécie…hah!). Ora bem, que raios… a minha sanita só tem um niquinho de aguinha bem lá no fundo! (só o suficiente para impedir que os grotescos mutantes fecais encontrem o caminho de volta para a superfície). Se, por alguma razão, que nem sequer vale a pena estar agora a imaginar, alguém enfiasse lá as fuças à pressão ia mas é partir a cana do nariz e os dentinhos da frente na louça! Eu só digo isto… se essas tais sanitas cinematográficas estão assim tão entupidas ao ponto de se acumular tanta água no seu interior, deve ser mesmo necessária uma boa carrada de efeitos especiais para tornar visível a cara que eventualmente chafurdar no… chamemos-lhe recheio (de certeza que não se trata de um cristalino riacho de montanha)!

sábado, novembro 22, 2008

`Desconstruir´ é uma palavra(?) estúpida que alguns `artistas´ gostam de usar para tentarem dar estilo ou sentido(!) à bodega que excretam

(sim, isto é arte! …. desconstruída…)
(por razões óbvias, não estampei lá o meu ©)

sexta-feira, novembro 21, 2008

Olá! Eu sou uma publicidade estúpida...



“Vodafones!” Certo… uma data de jovens casaizinhos amigos (ou assim parece), todos no pico da sua sexualidade (ou assim parece), reúnem-se para um divertido convívio pela noite dentro (ou assim parece) e qual é o assunto escolhido para quebrar o gelo? Facturação telefónica! Quero dizer… FACTURAÇÃO TELEFÓNICA?! What the fuck?! Não admira que… que… que porra! Já nada é mesmo de admirar! E, depois, uma das gajas (que pretende transmitir um certo ar de sofisticação) ainda murmura com um certo desdém: “Vo-da-fones!” (mais valia dizer logo de uma vez “Vodaphonix!” (afinal, o que é que os publicitários de hoje em dia têm na mioleira?!) Acordem para a realidade! Uma data de casaizinhos todos “ai, não me toques na vestimenta que me desaprumas” mais depressa começariam logo com a enumeração dos diferentes modelos de dildos que surgiram (usaram) nos últimos meses, por ordem de preferência e excentricidade. Agora, facturação telefónica?... Phonix!

quinta-feira, novembro 20, 2008

O balão



Num dia de passeio no parque, a criança passeava alegremente com o seu cão.

A mãe tinha-lhe oferecido um presente colorido para ele segurar na mão.

Era um balão!

A criança foi criança enquanto não veio o bicho-papão.

O malvado chamava-se vento de pessoa grande, ou tinha ares disso.

Metia mais medo do que um aranhiço.

Nem valeu à criança o seu animal de estimação.

O papão levou o presente de sumiço.

E lá se foi o presente colorido.

Como se a mãe nunca lho tivesse oferecido.

Ficou a olhar para o ar.

Onde estava o sol a brilhar.

Com uma tristeza de espantar.

Por ver o balão voar.

A criança, o sol e o cão.

Ficaram todos a olhar para o balão.

quarta-feira, novembro 19, 2008

O escalador de icebergues



Quem já tentou deitar a escada a uma pessoa insensível saberá bem onde eu pretendo chegar (deitar a escada é uma expressão que significa, muito carinhosamente, demonstrar o afecto a alguém… ou também pode ser um eufemismo para saltar para a espinha a alguém, que por sua vez também pode ser um eufemismo para… olha, não interessa!). Adiante com essa coisa de explicações foleiras para termos que, ao fim e ao cabo, toda a gente conhece. E quem não conhecer que pesque o percebimento pelo contexto. (sim, a palavra percebimento existe mesmo!). Mas, dizia eu… às vezes, não sei por que razão obscura, e perfeitamente estúpida, anda alguém a desperdiçar tempo e energia para tentar escalar a indiferença daquela pessoa parva que, por algum motivo, parece não prestar atenção. Uma vez ou outra já todas as pessoas adultas (seja lá o que isso for) passaram por essa situação. Se não passaram, estão a passar ou vão passar. Se não passaram, não estão a passar, ou acham (imbecilmente) que não vão passar, bem… que porcaria de vidinha estúpida! Enfim. É chegado o momento de eu desmistificar por completo todo esse estranho ritual. O que acontece, caro e vasto universo de potenciais leitores (por potenciais entendo todos aqueles que possam vir a ler isto nos próximos cem anos), o acontece é que essa tal pessoa que alguém se esforça por tentar escalar não é indiferente, não. Tem é a puta da mania! (ups! eu disse puta!... doh!). Pronto, ultrapassada a blasfémia literária (que seria palavrinha espirituosa e ovacionada se eu já tivesse o Nobel da Literatura), o meu conselho é este: se és gaja, tens mais de dezoito anos (detalhe puramente legal), e achas que já estás pronta para o vamos a isso, não estejas com merdas (ovação)! Diz-lhe que, no dia em que ele nasceu, nasceram mais uns bons milhares. Se és gajo, não importa a idade, e estás sempre pronto para… o que quer que seja, a verdade é que não tenho conselhos a dar-te. Tudo o que te disser vai mesmo entrar a cem e sair a duzentos. Resumo: venham os icebergues que, com uma cordinha atada à cintura, teimosia e o equipamento adequado, não há cume que não se atinja. (nem que seja só pelo divertimento de depois descer a encosta de trenó).

segunda-feira, novembro 17, 2008

Gato preto Gato branco


Sim, já sei que é o título de um filme (bastante engraçado, diga-se de passagem), mas não vou falar de idas ao clube de vídeo, nem de pipocas (porcaria de coisa comestível mais estúpida que são as pipocas… os estilhaços do milho rebentado metem-se no meio dos dentes e… pronto, já me estou a desviar do assunto). Do que eu quero mesmo falar é de trocas e baldrocas. Eu até me disporia a explicar por estes lados o que raio é isso de trocas e baldrocas mas, mesmo que ninguém saiba a definição exacta, toda a gente acaba por saber do que se trata. Pois bem, trata-se. Ora, brilhante explicação que tu cá tens, ó lima ou limão! Nem vale três vinténs, nem sequer a centésima parte do tostão! (tudo isto foi só para conseguir rimar, claro está). Mas, afinal, onde é que eu quero mesmo chegar com esta conversa toda (também não é assim tanta) que, até agora, ainda não tem nada a ver com uma imagem toda trocada onde aparece um gato que, na verdade são dois que, na verdade, é apenas um? Ora, a lado nenhum! Foi só uma baldroca da minha parte. Não aquece nem arrefece, mas também é arte.

sábado, novembro 15, 2008

O guardador de estrelas



Todas as noites, o faroleiro aguardava, de lanterna na mão, junto ao penhasco.

Lá em baixo, o mar trazia as recordações entardecidas na sua hora de chegar, embaladas nas cantigas das ondas que sussurravam a serenidade da espuma na areia da praia que sempre se irá molhar.

E o faroleiro aguardava.

Nada do que o mar lhe trazia era aquilo que o faroleiro queria ver chegar. Todas as noites, a luz do farol iluminava até onde a distância lhe permitia. A claridade ia até ao fim da noite, onde o passado fica onde está, escondendo-se do lado de lá.

E o faroleiro aguardava.

A noite repetia-se ao fim de cada dia e, ao fim da cada noite, nunca vinha a chegada desejada.

O rosto do faroleiro era tristeza… como só a sente quem não tem o que deseja por não desejar mais nada.

Na verdade, o faroleiro não aguardava… ele guardava.

Guardava recordações de outros serões na companhia da sua amada.

E o faroleiro guardava.

Guardava sonhos e ilusões que um dia foram passeios de mão dada.

Outrora, teve esse amor. Sentiu-o no corpo e na vontade. Sentiu-o de verdade.

Agora, todas as noites, o faroleiro apenas sentia saudade.

E o faroleiro guardava.

Com a luz do seu farol vermelho dominava a paisagem escurecida, indicando o rumo a esta ou aquela embarcação perdida.

De lanterna na mão, olhava para cima. Como eram belas! Lembravam-lhe o sorriso que outrora o acompanhara nos passeios pela praia.

Como eram belas! Como queria estar com elas e conhecê-las! Por isso se tornou guardador de estrelas.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Mais do mesmo



Achas que está um belo dia para passear? Vais abrir um livro e lê-lo até ao fim? Ofereceram-te um bilhete e vais ao teatro? O QUÊ?! O que raio se passa contigo? Sai da rotina! Senta-te no sofá e vê televisão!
Apetece-te escrever um romance? Tens vontade de pegar nos pincéis e criar uma obra de arte? Achas que uma ida ao museu de qualquer coisa pode ser divertida? HÃ?! Mas, afinal o que é que tu tens dentro da cabeça? Um cérebro? Atina!
Pensas demasiado nos problemazitos do dia-a-dia? Aniquilas milhões e milhões de neurónios em questões existenciais? Tencionas emitir opinião acerca das idiotices cometidas pelos parasitas amorfos que exclamam: “Por um Portugal melhor!”? STOP! Queres ter um derrame cerebral? Aguenta os cavalos!
Agora temos a solução! Sim! Para todos esses aborrecidos impulsos do dia-a-dia, temos um fantástico paliativo que actua como anestesia para todos esses incómodos! E, mais fantástico ainda, esse maravilhoso analgésico está disponível em quatro (SIM, QUATRO!) extraordinárias versões! (Obs. é favor ler as indicações antes de consumir; os efeitos variam consoante a versão do paliativo; três são de marca registada e uma é um subproduto genérico). Para maiores esclarecimentos, experimenta todas, e depois decide qual delas te insensibiliza com maior eficácia.

quinta-feira, novembro 13, 2008

E agora, um poema

(se calhar, é melhor fazerem festinhas à imagem com a setinha do rato para ela ficar maior... a imagem, não a setinha do rato)
(sim, é só isto mesmo)

quarta-feira, novembro 12, 2008

Tagarelar



É aquela velha história do palram, palram, mas bulir que é bom, nicles! (este pretende ser o meu primeiro contributo para a sempre saudável crítica social… se bem que o ideal seria mesmo não ter de haver crítica social, porque tudo estaria bem… ou, então, DITADURA!... vendo bem, mais vale mesmo que haja quem mande uns bons bitaites de vez em quando). Bom, como eu estava a dizer… a minha paciência há muito que se auto-mutilou estourando os tímpanos para se insensibilizar contra os efeitos da tagarelice patarata que brota lá bem do fundo intestinal de criaturas acéfalas, que vulgarmente são designadas no seu colectivo por classe dirigente (nome científico: polyticus stupidus). Sendo assim, é meu dever de pessoa cidadã deste país (hum… “pessoa cidadã” soa um bocado estranho) … é meu dever de habitante deste país (hum… “país” ainda soa mais estranho) … é meu dever de habitante desta plantação de bananas, seguir a tendência do território e da sua cultura (bananas), o que consiste em juntar-me às massas e passar por tagarela, não vão os verdadeiros palradores descobrir que eu possuo um cérebro e capturar-me para tentarem perceber com é que o raio da coisa funciona. Riqueza de berço e ignorância perpétua… oh, abençoada existência! Salve-se quem puder!

terça-feira, novembro 11, 2008

Espalhar brasas



À lareira, o mundo parece sempre mais antigo. Esquecem-se os radiadores que trazem calor sabe-se lá de onde (e ninguém quer mesmo saber, desde que as geringonças funcionem como deve ser). É bom assentar o esqueleto diante da lenha que arde e aplaudir a dança do fogo. Sentir as chamas a chamar pelo conforto. Sentir as labaredas a empurrar o demasiado quente para a roupa até nos obrigar a afastar o tecido da pele. Chamas chamantes. Conforto confortante. À lareira esquece-se o palavreado moderno, fala-se como se quer… é assim que se sente o fogo numa tarde de Inverno. Não é ainda essa estação. Na verdade, é Outono. Não importa. Outono e Inverno são gémeos verdadeiros. Ambos são frio desconsolado, vento nublado e abundância de aguaceiros. São dois espíritos guerreiros de terra esquecida num norte qualquer, ambos homem e mulher, que dão ao corpo vontade de se entregar ao braseiro, sentindo que lá fora começa a chover. A chuva na janela… quem me dera conversar com ela. Às vezes, quero ir com ela, partir, sem vontade de chegar… apenas ir.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Bar aberto

(Observação espertinha de puro armanço: eu desenho anos-luz muito melhor do que isto, mas… é-eh!... numapeteceu).





Não, isto não é um sítio onde se desencantam maravilhosas receitas para cocktails… lima ou limão é uma questão de indecisão… na verdade, nem era mesmo este o nome que eu queria para isto mas, como ao fim de experimentar duzentos milhões de nomes diferentes (depois de tirar o cavalinho da chuva no que respeita aos que realmente me interessavam), o desespero assoma-se aos nervos e uma pessoa já está por tudo quando se trata de perfilhar o raio da coisa. Pronto, posso ter exagerado um pouco quanto ao número de tentativas falhadas… deve haver uma margem de erro que ronda as centenas de milhões. Mas porra pró catano, lima ou limão serve perfeitamente (há uma razoável probabilidade de o nome não ter surgido completamente ao calhas, mas não vou agora estar para aqui a dissecar o elaborado processo sociológico através do qual cheguei ao nome mais perfeito que pode haver para uma coisa destas). (o parênteses foi uma tentativa de fazer humor). (o parênteses anterior contém dez mil mensagens subliminares para que achem piada ao parênteses anterior ao anterior). Se nenhum dos parênteses produziu os efeitos pretendidos em quem passou os olhos por aqui, das duas uma: ou não têm sentido de humor, ou não têm cérebro para papar as mensagens subliminares (o que redunda no mesmo). Lima ou limão. Uma questão de indecisão. Em qualquer dos casos, sejam bem-vindos. Eu amanho-me com ambos. (os que acharam piada aos parênteses também serão bem recebidos).

Psiu! Se esfregarem o olho esquerdo com a casca de um citrino conseguirão identificar no título lá em cima uma das tais mensagens subliminares para se rirem até das imbecilidades mais néscias, mesmo que não queiram… lima ou limão.




Aviso de consciência: certo, talvez não seja preciso esfregar a casca de citrino no olho esquerdo, mas se acharem que devem…