quinta-feira, dezembro 31, 2009

Sem regulador de acidez


Olá!
Umas vezes há limonadas.
Outras vezes não há.

Até já!

domingo, novembro 08, 2009

O meu cão Pintas



O meu cão Pintas não é só meu mas está-se nas tintas.
Ele é assim mas gosta de mim.
É cãozinho bonito, mesmo que seja caladito.
Não é muito de ladrar, mas a jogar ao sério é difícil de lhe ganhar.
Eu sei, que já tentei.
Ele venceu, que nem se mexeu.
Foi-me oferecido em forma de vidro.
Eu aceitei-o e desenhei-o.
Agora partilho-o contigo, que é coisa de amigo.
Depois fazemos-lhe festinhas, com as tuas mãos e as minhas.

segunda-feira, abril 06, 2009

Nós


Uma vez um homem disse-me assim: “gostas de mim”.
Isso foi dizer, não foi perguntar.
E eu disse: “tenho de pensar.”
Não foi nada de especial.
Uma vez, uma mulher aproximou-se, beijou-me e disse: “gosto de ti?”
Devia dizer em vez de perguntar.
Eu disse: “vai-te lixar.”
Mas acabei por a abraçar.
Depois, dançámos um no corpo do outro… fomos homem e mulher, cada um na sua vez.
“Primeiro eu!”, disse ela.
Ela queria ser a parte rude.
E eu fui mulher enquanto pude.
Depois, não aguentei. Cansei. Chorei.
Disse-lhe: “agora és tua a parte que sente. Deixa-me ser a parte que mente.”
Ela sorriu para mim e disse-me assim: “ambos mentimos porque ambos sentimos.”
E deu-me a mão como se não houvesse outro jeito de dizer que me dava o coração.
Eu fui homem na minha vez sem lembrar o que ela me fez quando foi homem na sua vez.
Então, eu fiz-lhe também como se ela não significasse ninguém.
Quando voltei a ser a parte que sentia sofri com o que lhe fazia.
Olhámo-nos a meio da troca dos nossos corpos e fomos o rosto um do outro.
Fomos o ser.
Um e nenhum.
E voltámos a ser.
Uma e nenhuma.

sábado, janeiro 31, 2009

O que sentimos


Lidar com o que se sabe não é a mesma coisa que lidar com o que se sente. O que se sabe dá-nos certeza. O que se sente, às vezes, mente. O que se sabe, avalia-se com clareza. O que se sente, é diferente. Mente? Não. Não é verdade. O que se sente não mente. Apenas nos dá a verdade a medo. Incerteza. Dúvida. Insegurança. Distância. Ausência. Medos. Tudo isso são medos de quem sente. Quem sabe e sente, aprende a lidar com isso. Quem apenas sabe, tem medo de sentir. Quem apenas sente, tem medo de (não) saber. “É complicado.”, dizemos nós. E é bem verdade, isso que dizemos. É. É mesmo complicado sentir. Ainda assim, não sentir não torna as coisas menos complicadas. Mas não sentir é uma impossibilidade emocional. É karma existencial. Quer-nos, mesmo quando não o queremos. E quando não o queremos, é porque já o quisemos demasiado. É complicado. É mesmo. Mas não é sempre mau. Às vezes é. Mas viver também, e queremo-lo todos os dias. Bem, alguns dias não queremos. Não queremos mesmo. A vida magoa-nos e expulsa-nos da vontade de a querermos. Deixa-nos fora da porta da sorte num dia de chuva. Nesses dias, não a queremos. Mas também há dias de sol. Nesses dias, ficar fora da porta até sabe bem. O que sentimos é assim. Assim, e de muitas mais maneiras. “É assim, mesmo que não queiras.” É esta verdade que devemos ao coração. É o que lhe devemos dizer, mesmo que ele não queira saber. E com o sentir também se aprende. E quem aprende, fica a saber que sente sempre da mesma maneira, mas que o resultado não é sempre igual. Isso acontece porque não sentimos sós. Quando sentimos, não somos apenas nós. Sentir é um empréstimo. Temos de aprender a aceitar que há quem não devolve o que lhes emprestamos. Felizmente, também há quem devolve e agradece. É complicado.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Para sempre, eu


Oh! Quero ser imortal! Quero viver para experimentar tudo sem ter de me interessar verdadeiramente por nada. Seria um desperdício? Oh! Não seria, não. Desperdício é vivermos todos tão pouco tempo e sermos obrigados a interessar-nos por coisas que não nos dizem nada. Conta bancária recheada? Casa de mil e vinte assoalhadas? Carro supersónico? E isso tudo é o quê? Nada. Não preciso de muito dinheiro. Só o suficiente para não passar pela vergonha de indigente. Dispenso um T1020. Gosto de sentir a proximidade acolhedora das paredes, e de uma mesa de jantar que não tenha o comprimento de uma estrada intercontinental. Tenho medo de veículos demasiado rápidos quando tenho de ser eu a conduzi-los. Prefiro morrer devagar, de costas deitadas numa rede, entre duas palmeiras, depois de saborear uma piña colada. Quero saber como se faz, isso de viver para sempre. Mas de verdade. Viver na saudade não conta. Os que nos sentem a falta também acabam por desaparecer. O esquecimento aumenta a cada geração que passa. Depois, já ninguém se lembra de nós. No fim, nem sequer chegámos a existir. Só existimos enquanto alguém se lembrar de nós. Oh! Quero ser imortal! Acho que isso, só amando alguém (mas uma coisa mesmo à séria, que fique gravada na memória da essência das coisas, até à partícula mais ínfima da matéria). Mas é preciso saber que se ama. Sem aquelas dúvidas que entulham o estômago com angústias difíceis de digerir. Só assim existimos para sempre… nem que seja apenas por um instante. Oh! Quero isso. Às vezes, temos o que queremos, mas, ainda assim, continuamos a querer, porque não sabemos que temos. Se temos, alguém que nos diga. Se não temos, esse alguém também nos pode dizer. Oh!

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Do fundo do baú


Assim, como quem não quer a coisa, o passado vem lá de trás… umas vezes, traz coisas boas, outras vezes… não queremos nada do que nos traz. O passado nunca passa. Para o bem e para o mal, é corda que nos amarra. Tanto nos salva de cair na falésia do desalento como nos aprisiona à escravidão de más recordações. E, para ter más recordações, nem sequer precisamos de ser más pessoas. Nem todas as memórias que lamentamos são culpa nossa. Às vezes, nem sequer são culpa de ninguém. O passar do tempo encarrega-se de fazer tudo acontecer sem prestar contas a alguém. “É a vida!” É esta a resignação que resta a quem quiser aceitar. Lutar com o passado é estupidez. Fazer as pazes com ele é lucidez. Recorda-se. Chora-se. Recorda-se aquela vez… E depois chora-se mais… seja pela distância da infância ou, simplesmente, pela saudade que se tem dos pais. É assim. Quando os fantasmas do passado saem do calendário dos anos vividos, exorcizam-se com um sorriso. Ou dois. Relembram-se os bons momentos e apaziguam-se os tormentos. As más recordações, essas, ficam para depois.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Aviso cívico


“O programa que se segue pode conter linguagem ou cenas susceptíveis de ferir a sensibilidade dos telespectadores.” O que eu gosto de ver este aviso cívico antes de começar um filme na televisão (pública). Significa que, pelo menos, haverá sexo, violência, calão, ou os três de uma assentada. É claro que também pode correr mal e ser apenas um filme do Manoel de Oliveira. Nunca se sabe. A televisão é mesmo uma caixinha de surpresas (observação de puro sarcasmo, entenda-se). Bem, hoje em dia, com estas coisas de ecrãs panorâmicos achatados, a televisão tem um formato mais assemelhado a uma tablete de chocolate. Enfim, modernices!

Ah! E quando eu chegar aos cem anos quero que me conheçam por esse grande prodígio de realmente não possuir nada de extraordinário para além da própria idade. Pff! E até isso não é assim tão extraordinário, se considerarmos os fósseis pré-históricos (que têm milhões de anos). E os bichos apenas tiveram de preencher o requisito de, em algum momento do tempo, terem existido. Bah!