quinta-feira, janeiro 15, 2009

Para sempre, eu


Oh! Quero ser imortal! Quero viver para experimentar tudo sem ter de me interessar verdadeiramente por nada. Seria um desperdício? Oh! Não seria, não. Desperdício é vivermos todos tão pouco tempo e sermos obrigados a interessar-nos por coisas que não nos dizem nada. Conta bancária recheada? Casa de mil e vinte assoalhadas? Carro supersónico? E isso tudo é o quê? Nada. Não preciso de muito dinheiro. Só o suficiente para não passar pela vergonha de indigente. Dispenso um T1020. Gosto de sentir a proximidade acolhedora das paredes, e de uma mesa de jantar que não tenha o comprimento de uma estrada intercontinental. Tenho medo de veículos demasiado rápidos quando tenho de ser eu a conduzi-los. Prefiro morrer devagar, de costas deitadas numa rede, entre duas palmeiras, depois de saborear uma piña colada. Quero saber como se faz, isso de viver para sempre. Mas de verdade. Viver na saudade não conta. Os que nos sentem a falta também acabam por desaparecer. O esquecimento aumenta a cada geração que passa. Depois, já ninguém se lembra de nós. No fim, nem sequer chegámos a existir. Só existimos enquanto alguém se lembrar de nós. Oh! Quero ser imortal! Acho que isso, só amando alguém (mas uma coisa mesmo à séria, que fique gravada na memória da essência das coisas, até à partícula mais ínfima da matéria). Mas é preciso saber que se ama. Sem aquelas dúvidas que entulham o estômago com angústias difíceis de digerir. Só assim existimos para sempre… nem que seja apenas por um instante. Oh! Quero isso. Às vezes, temos o que queremos, mas, ainda assim, continuamos a querer, porque não sabemos que temos. Se temos, alguém que nos diga. Se não temos, esse alguém também nos pode dizer. Oh!

3 comentários:

Octávio disse...

Olá!

Isto de ser imortal... a imortalidade nasce nas palavras e nos sentimentos.

ao correr dos tempos têm ficado alguns imortais por aí, por acaso todos eles relacionados com amores, uns existem na ficção, ou nem por isso, e nós até temos uns que existiram, viveram, sofreram, mas a sua imortalidade mantêm-se na história (Pedro e Inês).

Se calhar hoje, a imortalidade, está garantida pela informática, belos blogs, pela palavra que roda pelo mundo sem sairmos do mesmo sítio.

Olha os escritores que à muito não andam por aqui, as palavras deles ficaram, e com elas a imortalidade.

carpe vitam! disse...

Keo - uma curiosa tentativa para atingir a imortalidade.

Mas lá dizia o Caeiro:
"Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar"

lima ou limão disse...

Octávio, a minha imortalidade é outra coisa... é um desejo pequeno, comparado com aquilo que quero mais. E isso que quero já me faz imortal. Na verdade, a minha imortalidade é apenas um capricho. Nada de valioso, comparado com aquilo que quero mais. E isso já tenho um pouco... querer mais é coisa de pensamento louco. A imortalidade é apenas uma nota de rodapé, na lista de desejos abusurdos, pelos quais mais vale não esperarmos de pé.

carpe vitam!, o Caeiro imortalizou-se novo... curiosamente, por não ser imortal.