
Lidar com o que se sabe não é a mesma coisa que lidar com o que se sente. O que se sabe dá-nos certeza. O que se sente, às vezes, mente. O que se sabe, avalia-se com clareza. O que se sente, é diferente. Mente? Não. Não é verdade. O que se sente não mente. Apenas nos dá a verdade a medo. Incerteza. Dúvida. Insegurança. Distância. Ausência. Medos. Tudo isso são medos de quem sente. Quem sabe e sente, aprende a lidar com isso. Quem apenas sabe, tem medo de sentir. Quem apenas sente, tem medo de (não) saber. “É complicado.”, dizemos nós. E é bem verdade, isso que dizemos. É. É mesmo complicado sentir. Ainda assim, não sentir não torna as coisas menos complicadas. Mas não sentir é uma impossibilidade emocional. É karma existencial. Quer-nos, mesmo quando não o queremos. E quando não o queremos, é porque já o quisemos demasiado. É complicado. É mesmo. Mas não é sempre mau. Às vezes é. Mas viver também, e queremo-lo todos os dias. Bem, alguns dias não queremos. Não queremos mesmo. A vida magoa-nos e expulsa-nos da vontade de a querermos. Deixa-nos fora da porta da sorte num dia de chuva. Nesses dias, não a queremos. Mas também há dias de sol. Nesses dias, ficar fora da porta até sabe bem. O que sentimos é assim. Assim, e de muitas mais maneiras. “É assim, mesmo que não queiras.” É esta verdade que devemos ao coração. É o que lhe devemos dizer, mesmo que ele não queira saber. E com o sentir também se aprende. E quem aprende, fica a saber que sente sempre da mesma maneira, mas que o resultado não é sempre igual. Isso acontece porque não sentimos sós. Quando sentimos, não somos apenas nós. Sentir é um empréstimo. Temos de aprender a aceitar que há quem não devolve o que lhes emprestamos. Felizmente, também há quem devolve e agradece. É complicado.